segunda-feira, 9 de março de 2009

Ainda os Magalhães

Se calhar já não vou a tempo de comentar a polémica com os Magalhães. Mas vou ainda a tempo de perguntar como é que se ficou a saber o sexo, a localização geográfica e a escolaridade do alegado "tradutor". Pois é... É terrível! Além de se ter sabido que é um indivíduo do sexo masculino e que vive em França, ficámos também a saber que tem apenas a quarta classe, o pobre senhor!

E como é que isso o desqualifica? Sim, porque ter a quarta classe em França é menos do que... o quê? Do que ser tradutor em Portugal? Bem, ninguém se deu ao trabalho de perguntar ou querer saber efectivamente o que isso pode significar. Aliás, ninguém se questionou por que motivo isso não impediu o homem de fazer o seu trabalho, seguramente cobrar por ele e, pelo caminho, fazer uma série imensa de Professores, Doutores, Engenheiros - e muitos outros daqueles títulos que há uns anitos o Ludgero Marques queria que fossem metidos na gaveta - passar por bem mais patetas do que ele. Sim, até porque foram eles que aprovaram, pagaram e distribuíram os aparelhos que continham o referido programa.

Já agora e só por acaso - e para que fiquem a saber - a qualificação de tradutor concedida pelas instituições de ensino superior não significa que alguém possa dedicar-se a essa profissão no nosso país. De facto, é absolutamente normal encontrar profissionais desta área em Portugal - tal como em muitos outros países - sem qualificações de origem da área dos Estudos de Tradução. Até é muito frequente, também por cá, haver indivíduos sem qualificações de qualquer ordem no desempenho de tais funções.

Sim, porque a Norma Europeia EN15038, de 2006, determinou condições mínimas para o exercício da função, mas não só a Norma ainda não é aplicada na sua totalidade (especialmente em Portugal), como as condições da sua aplicação na área da tradução técnica implicam que os tradutores (e as empresas que os contratam) apenas têm de cumprir pelo menos um de três requisitos: formação de nível superior em Estudos de Tradução (qualificação reconhecida); qualificação equivalente numa outra área de especialização, mas com um mínimo de dois anos de experiência documentada em tradução; ou pelo menos cinco anos de experiência profissional documentada em tradução! Ah, pois é... Se calhar o senhor em causa está incluído nesta categoria.

Mas estes comentários vêm apenas a propósito das informações que se ficaram imediatamente a conhecer sobre a vida do dito cujo indivíduo, procurando desvalorizá-lo e cobrir de ridículo. Contudo, em momento algum, houve quem se dedicasse a tentar saber se o dono da empresa que faz a montagem dos Magalhães, os iluminados que aprovaram a instalação daquele programa (será que eles sabiam quais eram os programas instalados?), ou os homens do Marketing que deram a conhecer os aparelhos (Primeiro-Ministro incluído... pois obviamente é um homem do Marketing!) eram ou não letrados. Ninguém quis saber se teriam, ou não, mais do que o 9º Ano de escolaridade obrigatório em Portugal.

Foi muito mais fácil. Ali estava um bode expiatório, tão à mão de acusar... Ainda por cima não tinha diploma nenhum - nem sequer de uma escola domingueira - que demonstrasse a sua (in)competência. Olhemos bem para tudo isto e vejamos com atenção o que tão sobriamente - com aquele tom de voz que sempre nos faz calar e ouvir em silêncio - diz António Barreto na revista Ler: "O Magalhães é o maior assassino da leitura em Portugal".

O rei vai nu, senhores...

1 comentário:

FFA disse...

Caríssimo,
estamos em perfeita sintonia.
Prolongando o teu comentário, quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão...
São estas as causas que nos moveram, e que nos movem ainda...