quinta-feira, 16 de abril de 2009

Duas Inglesas em Portugal



Duas Inglesas em Portugal – Uma Viagem Pelo País nos Anos 40, título da primeira edição portuguesa, pela Quidnovi, do famoso guia de viagem da autoria de Ann Bridge e Susan Lowndes, "The Selective Traveller in Portugal", com tradução de Jorge Almeida e Pinho, foi hoje lançado, pelas 18.30h, na Ordem dos Economistas, em Lisboa.


Permito-me, aqui e agora, uma curta nota...

A eventual estranheza na leitura e entendimento actual das situações descritas em Duas Inglesas em Portugal é um factor inerente à inevitável datação e integração da obra na cultura britânica e nessa outra época em que foi primeiramente editada. O tempo actual significa mesmo outros lugares… E se os portugueses nesta obra eram o mesmo povo e tinham a mesma língua, que ainda hoje reconhecemos, eram, contudo, efectivamente outros, em diversos aspectos, para as autoras. Um leitor actual, em língua portuguesa, deverá ter a noção de que, apesar de ser o mesmo país e a mesma gente, aconteceram grandes mudanças. O relato do ontem e a visão diferente, porque estrangeira, retratados em Duas Inglesas em Portugal, servirão seguramente para encarar o hoje e o “nós” com a percepção clara de tais mudanças.

Os estereótipos étnicos ou nacionais associados à imagem externa do que era ser-se português assumiram, nesta obra, e em especial para Susan Lowndes e Ann Bridge, características certamente reconhecíveis enquanto exercícios de auto- e hetero-análise da imagem de Portugal e dos portugueses. Afinal, para todas as nacionalidades, ver o “outro”, entenda-se o estrangeiro, como uma anomalia ou singularidade, porque desviado dos seus padrões originais, é efectivamente a norma. Do mesmo modo, tem sido prática comum, na literatura ao longo dos tempos, reconhecer que as peculiaridades específicas de cada nação são registadas como comportamentos alargados de todo um povo, classificando-o e catalogando-o de formas bem diferentes das percepções que esse povo tem de si próprio.

Ora, em Duas Inglesas em Portugal, o “outro” somos precisamente nós, os portugueses! E reconhecermo-nos como tal ao longo das páginas desta obra nem sempre é fácil, nem sequer evidente. Sobretudo porque, em algumas situações, as quase sete décadas de distância produziram, naturalmente, marcas de diferença e assumiram formas de afirmação vincadas e declaradamente ultrapassadas. Apesar de tudo isso, este texto vale por si mesmo como um belo guia de viagem no tempo e no espaço… Até ao Portugal da década de 1940!

1 comentário:

margarida baldaia disse...

Fiquei um bocadinho chateada por ter visto este livro nas livrarias, porque era uma das coisas que eu gostava de fazer um dia. Mas, vá lá, foi traduzido por ti. Nem tudo se perdeu.