Atendi o telefone. Após alguns dias sem pio, o dito dava novamente sinais de vida.
- Ó Hélder, queres que desligue a caixa?
....
- Tás a ouvir? Ou é melhor ligar antes o XVZPTO?
...
- Sim?! Tás aí?
- Olha, tás-me a ouvir?
Fascinado, deixei-me ficar a ouvi-los atentamente, enquanto prosseguiam naquela conversa aparentemente de surdos.
- Ó Hélder, se calhar é melhor ligarmos os fios na central outra vez.
...
- Ou não?
- Tou, tás-me a ouvir?
É assim que a PT resolve os problemas de má ligação ou avarias, pensei. Põe dois indivíduos, numa qualquer catacumba, a falarem um com o outro, e a resolverem o problema.
Contudo, parei por instantes e fiquei a pensar se não seria antes uma escuta desviada de Aveiro aqui para Ovar? Será que o meu número iria aparecer por aí, numa dessas páginas da Procuradoria ou de um DIAP recôndito, associado a mais uma negociata de corrupção?
Ai, deixa-me já dizer alguma coisa ao Hélder, antes que tenha de fazer o mesmo que o Vara e mandá-los ver as minhas contas bancárias. Que vergonha seria saberem a miséria que por lá anda.
- Alô, Sr. Hélder?
...
- Tou Hélder, tás aí?
- Estou sim, sou eu. Um cliente PT. Os senhores estão a usar a minha linha para conversar ou para a arranjar?
- Tou... Hélder? Tás a ouvir?
- Desliga a m... da caixa! Tá práqui um gajo a meter-se. Desliga isso.
- Tou, Hélder!?
...
- Meus senhores, agradecia que me ligassem novamente o telefone. Já agora, e por obséquio, gostava que pusessem a linha a funcionar como deve ser.
Desliguei e fui à minha vidinha, mas acho que o Hélder e o outro andam por aí.
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